quarta-feira, 27 de maio de 2015

Ser emigrante é... ingrato!


Os comentários são às paletes, uns aplaudem, a maioria critica e quanto a mim, bem.

Quem escreve um texto destes não vive no mesmo Portugal que eu!

Sendo que estou prestes a sair e confesso, há uns anos atrás a ideia de ir para fora não estava nos meus planos, sempre achei que não sairia nunca.
Mas a vida muda e muitas condições também, aqui o que sinto, é que sou literalmente estuprada, que pago impostos a torto e direito, sem qualquer retorno. 
Se aceitamos trabalhar em empregos que nunca teríamos em Portugal? Sim! E aceitamos e a troco do quê? A troco de dinheiro obviamente e muitas vezes até mesmo, de um simples reconhecimento.
Trabalhar numa cadeia de fast-food em Portugal traduz-se em 40 horas semanais e em 505€ mensais, fazer o mesmo trabalho em França, traduz-se em 35 horas semanais e em 1452.52€ mensais. Agora digam-me lá, o que é melhor?
O custo de vida lá é mais caro? Pesquisem sobre isso e eu digo já, é! Mas só é, se forem para as grandes cidades...
Da minha experiência, as coisas mais caras são electrodomésticos e algum mobiliário (mas também não compramos disto todos os dias, pois não?), a carne o peixe também são mais caros, a fruta e os legumes às vezes também são. E o que fazer? Aproveitar as promoções ao máximo, vulgo, lamber todos os catálogos, como diz a "Descontos" comparar, comparar, comparar...
O marisco (ironicamente) e a mercearia é mais barato, logo, colocando tudo numa balança, ao final do mês consegue-se gastar menos. Ainda mais, se forem poupadinhos como eu e vasculharem a web world de uma ponta à outra, em busca de vales de descontos.
Os serviços são mais caros, a luz (o valor do kw é metade do de cá, mas o consumo é muito maior, imaginem estar num ambiente de -4º sem ligar o aquecimento!), a água, os seguros, etc. são mais caros, mas não há como não serem mais caros, afinal os ordenados também são elevados, não é assim?

O que vejo, é que é com um ordenado médio em Portugal (já nem falo do mínimo!) não sobra nada e em França com o ordenado mínimo, sobra e consegue-se ter uma vida digna e ainda pagar uma casa cá. E no meu caso, não vou, porque esteja desempregada, embora o meu marido estivesse, vou porque quero dar um futuro ao filho, futuro esse que aqui não me parece possível. Se me vou arrepender? Não sei...  Se preferia estar no meu país? Mas alguém disse o contrário? Se digo que lá é melhor do que cá? Como um professor meu dizia "É em todo lado, como é aqui!"
Mas viver com 860€ líquidos é muito diferente de viver com 2500€, sendo que os valores de gastos estão muito equiparados.

Se me sinto traída e abandonada pelo meu país? Sinto!
A minha formação aqui não me serve de nada não exerço aquilo para o qual me habilitei, duvido que lá também o faça, mas quem sabe? 
Sinto que pago carros luxuosos, que nunca conduzi, sinto que pago segurança à porta de muitas casas, que não são minhas, sinto que pago impostos sobre cada passo que dou ou cada palavra que digo/escrevo (felizmente o Blogger não é tuga!). Não recebo uma única ajuda do Estado para manter o meu filho na escola, as únicas ajudas que recebo são de familiares, aliás os nossos governantes daqui a pouco vão instituir as ajudas familiares como obrigatórias, pais reformados ajudam os filhos com o que podem, devido à redução de salários desde o inicio da crise.

Mas no fim disto tudo, agradeço a boa sorte que o miúdo, que escreveu o artigo nos deseja. E não me coíbo da referenciar que o nome dele e o sobrenome dizem logo que é um menino rico que nunca soube o que é trabalhar, nunca soube o que é estar desempregado, mandar 100 CV's e não receber uma única resposta, ou ter de arranjar um segundo emprego em part-time, porque no emprego principal, não recebia ordenado e apenas falo do que sei por experiência.

A maioria dos portugueses que vão para fora, não vão porque querem ou não vão apenas à procura de uma experiência nova e não vão trabalhar para um escritório xpto no meio de Paris, de Londres ou Berlim. Muitos deles vão para trabalhos árduos e o seu Mérito é aceitarem esses trabalhos, para sustentar os seus! Vergonha de ir embora não tenho, tenho vergonha de deixar para trás os meus pais que com a idade, poderão precisar de mim e tenho vergonha de um país que deixou de ser democrático, onde se vive com medo, com medo de se perder a miséria de empregos que temos, onde a liberdade de expressão é algo indizível, onde só se fala em cortes em serviços essenciais, onde o social é somente um número e onde subcarregar os trabalhadores com impostos, é a prática comum para saldar dívidas que não são deles... mas será sempre o meu país!

2 comentários:

  1. Querida Lisa, desejo-te toda a sorte nesta jornada! não, não é fácil estarmos fora, noutro país, noutra cultura, falta muita coisa.... Mas o que podemos oferecer aos nossos filhos, à nossa família, a qualidade de vida, um futuro melhor.... compensa tudo! desejo-te uma grande felicidade nesta nova etapa, finalmente juntos, e juntos por um futuro melhor!um grande beijinho. Patrícia

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    1. Obrigada minha querida, tu já vives isso há bastante tempo! Espero daqui a uns anos sentir essa compensação da forma como sentes e que os nossos filhos valham este tremendo esforço que fazemos! Beijokas grandes daqui até aí! :*

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